Você é dentista e acabou de se deparar com um trauma alveolar na região da maxila, sendo diagnosticado com a necessidade de um procedimento cirúrgico de urgência. A opção inclui procedimentos como implantodontia, cirurgia oral menor ou cirurgia ortognática. Diante disso, qual profissional você escolheria?

• Dentista com 20 anos de experiência, mas que trabalha apenas no modelo analógico?
• Dentista com 20 anos de experiência e que há 7 anos trabalha no modelo de planejamento digital?
• Dentista com 2 anos de experiência e que trabalha exclusivamente com fluxo digital desde que iniciou a especialidade?

Essa discussão surgiu durante uma conversa com 4 profissionais de uma indústria de biomateriais para a implantodontia, em nossa estrutura de pós-graduação em Odontologia em Florianópolis, onde chegamos a um consenso: “Eu me sentiria muito mais seguro com um dentista que utilizasse o fluxo digital, se possível, o mais experiente.”

Não podemos mais realizar um procedimento cirúrgico sem a certeza do que será feito, como a necessidade de enxerto ósseo ou qual técnica e broca usar. A previsibilidade é essencial!

Desde 2018, trabalhamos com técnicas guiadas, e nos últimos 5 anos, praticamente não colocamos mais implantes sem guias cirúrgicas produzidas via planejamento digital. Para a Zenith, a tecnologia na Odontologia deixou de ser uma alternativa e se tornou uma necessidade. Em breve, acreditamos que o Conselho Federal de Odontologia e as associações nacionais adotarão essa visão, assim como ocorreu com a obrigatoriedade da tomografia para realização de implantes. A pergunta é: você vai começar agora e se manter atualizado ou esperar e depois correr atrás do prejuízo?

O objetivo deste blog é apresentar estratégias eficazes e ferramentas inovadoras para criar um planejamento cirúrgico e otimizar os resultados cirúrgicos. Mostrar que o uso de ferramentas de planejamento digital não apenas garante resultados biológicos, estéticos e funcionais, como também atende às exigências dos pacientes.

Texto por Dr. Rodrigo Tubelo

Boa leitura!

O que é Planejamento Cirúrgico Odontológico?

O planejamento cirúrgico digital envolve o uso de tecnologias digitais para analisar detalhadamente a anatomia dos tecidos duros e moles do paciente, permitindo o planejamento preciso de procedimentos cirúrgicos. Esse processo utiliza imagens de tomografia computadorizada, escaneamentos e impressões 3D, integradas a softwares especializados. Isso permite que o cirurgião visualize e simule as intervenções virtualmente antes de sua execução, aumentando a previsibilidade dos resultados, melhorando a precisão cirúrgica, reduzindo o tempo intraoperatório e contribuindo para a segurança do paciente.

Uma revisão sistemática com meta-análise de 8 ensaios clínicos randomizados sobre cirurgia ortognática, comparando o planejamento virtual ao analógico, demonstrou redução do tempo intraoperatório e melhores resultados estéticos. (Chen, Z., Mo, S., Fan, X., You, Y., Ye, G., & Zhou, N. 2020).

Principais etapas do Planejamento Cirúrgico Odontológico

1. Anamnese e exames complementares

A anamnese e a entrevista dialogada seguem sendo importantes independente do modelo de planejamento que vais executar, sugiro utilizar a anamnese digital do Clinicorp. Seu paciente pode responder de casa e você recebe um alerta dos cuidados que precisa ter com esse paciente. Converse com o paciente e sensibilize de que a Odontologia que você executa é diferente. 

Mostre casos de implantes mal posicionados e, em seguida, abra seu software e apresente um planejamento digital real de um paciente. Pergunte ao paciente de forma reflexiva: “No momento em que eu abrir sua boca, você prefere que eu tome decisões na hora, sem um planejamento prévio, ou que eu já esteja totalmente preparado, sabendo exatamente cada passo da sequência operatória para garantir precisão e previsibilidade?”

Além disso, que você já saiba exatamente onde será a posição do dente futuro. O processo de aceitação do tratamento não depende de uma técnica de venda milagrosa, mas sim de um dentista seguro, que compreende os impactos de uma iatrogenia na longevidade do tratamento. Basta conscientizar o paciente sobre esses riscos.

Solicite ao paciente uma tomografia e realize um escaneamento digital. Invista na estrutura certa: um bom scanner, um computador de alto desempenho e um software eficiente. Para isso, organize-se financeiramente, reduzindo despesas pessoais se necessário, e mergulhe de vez na Odontologia Digital. Se você pretende atuar pelos próximos 7 anos, não há opção — o digital não será um diferencial, mas uma exigência do seu paciente.

1. Scanner intraoral – Para capturar a arcada do paciente com precisão (arquivos STL).
2. Tomografia computadorizada – Essencial para planejamento cirúrgico e protético (arquivos DICOM).
3. Computador de alta performance – Placa de vídeo dedicada para processar imagens e renderizações 3D.
4. Software de planejamento digital – Com função de enceramento digital para prever o resultado final.
5. Impressora 3D – Se não houver um laboratório digital próximo, essencial para a confecção de guias cirúrgicos e modelos de estudo.
6. Conhecimento e dedicação – Acredite no digital, esforce-se, mude seus processos e invista em educação. A odontologia está evoluindo, e o mercado exigirá essa transformação! 

Calma, não precisa sair comprando tudo de uma vez! Busque parceiros estratégicos, como radiológicas e laboratórios digitais, que já possuem os equipamentos necessários. O escaneamento intraoral, na minha visão, não é mais uma opção, mas sim uma necessidade — então, organize-se para adquirir o seu. No entanto, você pode começar na Odontologia Digital sem grandes investimentos, aproveitando recursos de terceiros enquanto estrutura seu próprio fluxo de trabalho. O mais importante é dar o primeiro passo!

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2. Uso da Tomografia Computadorizada e Scanners Intraorais

Você vai solicitar à radiológica que envie os arquivos originais da tomografia. Eles virão em uma pasta compactada, geralmente entre 150 a 200 MB, pronta para download. Após descompactar, você encontrará uma pasta com 300 a 500 arquivos, que à primeira vista não farão sentido algum. Mas calma… estamos no caminho certo! 

Agora, tenha em mãos os arquivos STL do escaneamento intraoral. Solicite os arquivos do arco superior, inferior e o registro de mordida. Você pode receber arquivos STL ou PLY, ambos costumam funcionar sem problemas.

Com tudo pronto, abra um software de planejamento digital. Algumas opções são DTX da Nobel, Exocad Exoplan, Blue Sky Plan, Romexis ou NemoScan. Se tiver dúvidas, entre em contato com seu fornecedor de biomateriais, que com certeza indicará a melhor opção para o seu sistema de implantes.

Agora, vamos falar de equipamento. Invista em um notebook de alto desempenho, como os Alienware da Dell ou os modelos da Avell. Se não precisar de portabilidade, um Computador Desktop XPS da Dell pode ser uma excelente escolha com monitor UltraWide. Não esqueça de um bom mouse! Os da Logitech Bluetooth são altamente recomendados. Se você usa sistema Apple, evite o Trackpad ou Magic Mouse, pois não são as melhores opções para esse tipo de trabalho.

Agora sim, estamos prontos! A partir daqui, a mágica acontece: sem adrenalina, sem sangue, sem tosse, sem anestésico sendo absorvido. Apenas você e o planejamento cirúrgico perfeito, com a boca do paciente na tela do seu computador, prevendo cada detalhe do procedimento antes mesmo de começar. 

Bem-vindo à Odontologia Digital!

3. Planejamento Digital: simulação de cirurgias e seleção de instrumentais

Confira as 8 etapas para o planejamento digital:

1. Abra o software de planejamento digital. Ele solicitará que você selecione o tipo de procedimento que deseja realizar. Neste exemplo, utilizaremos o implante dentário.
2. O software pedirá que você incorpore a tomografia. Para isso, faça o upload dos 300 a 500 arquivos DICOM recebidos da radiológica. O sistema processará essas imagens em 4 a 10 segundos, gerando uma projeção 3D da arcada do paciente na tela.
3. Avance para a próxima etapa, onde será necessário importar os arquivos STL/PLY. O software irá automaticamente sobrepor a imagem tomográfica ao escaneamento intraoral, alinhando osso, tecidos dentários e gengivais. Neste momento, verifique se o contorno das estruturas moles e duras está compatível. A partir daqui, será possível explorar a região cirúrgica, realizar medições e definir parâmetros como o tipo e tamanho do implante, a plataforma adequada e se será necessário um implante infraósseo ou supraósseo
4. Defina o Zênite gengival do dente que será implantado. Utilize a régua digital do software para mensurar 4 a 5 mm em direção ao ápice. Essa medida será a provável altura do implante em relação ao alvéolo.
5. Realize o enceramento digital do dente futuro, garantindo que a saída do parafuso fique no sulco oclusal (para dentes posteriores) ou na face palatina (para dentes anteriores). Para evitar extravasamento de cimento, opte por próteses parafusadas. Essa técnica exige um bom implantodontista ou um profissional que trabalhe com cirurgia guiada.
6. Insira o implante dentro do sistema. Certifique-se de que o software possui a biblioteca de implantes correspondente ao seu sistema. Caso não tenha, entre em contato com seu fornecedor para obter os arquivos necessários.
7. Agora, ajuste as orientações vestíbulo-lingual e disto-proximal da posição do implante. Respeite os parâmetros: 1,5 mm de distância entre dentes adjacentes e 3 mm entre implantes para preservar as cristas ósseas proximais. Se houver deficiência de altura óssea, considere um levantamento de seio maxilar ou a técnica de osseodensificação. Na mandíbula, utilize o software para rastrear o nervo alveolar inferior. Se a espessura óssea for insuficiente, será necessário recorrer à regeneração óssea guiada (ROG), associando enxerto xenógeno ou autógeno com membranas para estabilização óssea.
8. Com o implante posicionado, gere a guia cirúrgica e confira todos os parâmetros. O próximo passo é enviar o arquivo STL para o laboratório ou imprimir na impressora 3D. Uma opção recomendada é a resina Bio Guide da Makertech, devido à sua biocompatibilidade, resistência à autoclavagem e estabilidade dimensional. No entanto, novas empresas estão entrando no mercado, por isso, pesquise produtos com base científica e tempo de validação antes de utilizá-los.

Se ainda tiver dúvidas, tire um print da tela e compartilhe com um colega experiente em planejamento digital. Sua comunicação com outros profissionais, pacientes e laboratórios será completamente diferente. Acredite na mudança!

Está gostando do artigo? Saiba mais sobre Fluxo digital na Implantodontia no vídeo abaixo:

4. Anamnese e exames complementares

Agora chegou o momento de realizar o procedimento. Antes de iniciar, certifique-se de que o paciente assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o Contrato de Prestação de Serviço e o Plano de Tratamento com o orçamento aprovado.

Pode parecer muita burocracia, mas essa é a realidade da Odontologia. Para facilitar esse processo, o Clinicorp pode ser uma excelente solução, permitindo o envio de um link para assinatura digital dos documentos. O sistema já oferece templates prontos, mas é altamente recomendável que você tenha um advogado especializado na área para revisar e ajustar os documentos conforme as necessidades da sua clínica. Garantir que tudo esteja formalizado corretamente protege tanto você quanto o seu paciente, trazendo mais segurança para o seu atendimento.

Tecnologia e Inovação no Planejamento Cirúrgico Odontológico

Vamos falar um pouco sobre ciência? O que a literatura tem falado sobre o planejamento guiado? Duas revisões sistemática com metanálise publicada em 2023 na Revista Periodontology 2000, e outra em 2024 na  Journal of Prosthodontics, ambas pertencem ao grupo das maiores revistas científicas na Odontologia dizem que a cirurgia totalmente guiada sem retalho (flapless) apresenta vantagens significativas em comparação com a cirurgia analógica convencional com retalho (flapped), especialmente no que diz respeito à precisão, menor morbidade e redução do tempo cirúrgico. A cirurgia guiada reduz desvios angulares tridimensionais na posição do implante, proporcionando maior previsibilidade dos resultados. 

Além disso, os pacientes submetidos a esse método possuem menos dor pós-operatória, menor inchaço e desconforto intraoperatório, tornando o procedimento menos invasivo e mais confortável. Por fim, a duração da cirurgia também é reduzida, contribuindo para maior eficiência da sua hora clínica. 

(Romandini M, Ruales-Carrera E, Sadilina S, Hämmerle CHF, Sanz M. Minimal invasiveness at dental implant placement: A systematic review with meta-analyses on flapless fully guided surgery. Periodontol 2000. 2023 Feb;91(1):89-112. doi: 10.1111/prd.12440. Epub 2022 Jul 30. PMID: 35906928.)

(Floriani F, Jurado CA, Cabrera AJ, Duarte W, Porto TS, Afrashtehfar KI. Depth distortion and angular deviation of a fully guided tooth-supported static surgical guide in a partially edentulous patient: A systematic review and meta-analysis. J Prosthodont. 2024 Sep;33(S1):10-24. doi: 10.1111/jopr.13893. Epub 2024 Jul 11. PMID: 38992883.)

Leia também: Passo a passo para integrar fluxos digitais aos seus tratamentos odontológicos

Conclusão

A previsibilidade e o sucesso dos procedimentos odontológicos, especialmente em implantodontia e reabilitação oral complexa, dependem de uma visão criteriosa que considere múltiplos fatores clínicos e sistêmicos. A falta de exames adequados, como tomografias computadorizadas e escaneamentos digitais, compromete a precisão do diagnóstico e planejamento, aumentando o risco de falhas na inserção dos implantes ou na adaptação das próteses sobre os implantes.

Por fim, não considerar fatores sistêmicos do paciente, como diabetes, osteoporose ou hábitos como tabagismo, pode impactar diretamente no processo de cicatrização e osseointegração, na resposta inflamatória e na taxa de sucesso do tratamento. Portanto, uma abordagem baseada em evidências científicas, exames complementares precisos e análise multidisciplinar é essencial para garantir previsibilidade, segurança e longevidade nos tratamentos odontológicos independente da técnica utilizada. Mas, você concorda comigo que com conhecimento e tecnologia podemos mitigar muitos dos riscos envolvidos?

E para você, que busca otimizar seu planejamento cirúrgico digital de forma eficaz e segura, o Clinicorp pode ser a solução ideal para a gestão completa da sua clínica. Preencha o formulário abaixo para saber mais sobre como ele pode transformar a forma como você gerencia seus atendimentos e planejamentos odontológicos.