Se tem um ingrediente que causa polêmica desde a sua introdução na medicina, com certeza é a cannabis. A forma, extraída da planta Cannabis Sativa, já teve seus efeitos testados e aprovados em diversas áreas da saúde e, agora, tem sido utilizada por dentistas. O uso da cannabis na odontologia já está regulamentado, mas mesmo assim, ainda sofre certa objeção por parte de profissionais e pacientes.
Como a planta é mundialmente conhecida pelo seu uso recreativo e indiscriminado, quando se fala de medicamentos à base de cannabis, muitas pessoas acham que ficarão com efeitos similares ao uso de drogas, o que não é verdade.
As substâncias extraídas da Cannabis Sativa são estudadas há anos e já possuem seus efeitos benéficos conhecidos e regulamentados pelas agências de saúde mundo afora, o que prova a segurança no uso devidamente prescrito.
Apesar de seu potencial terapêutico, o uso da cannabis na odontologia ainda enfrenta estigmas e desafios regulatórios.
Neste artigo, você vai saber quais as perspectivas terapêuticas da cannabis na odontologia, quais os benefícios comprovados e os desafios e considerações relacionados ao uso da substância.
Vai ver também como essa alternativa pode beneficiar os pacientes e como os dentistas podem orientar o uso de forma segura e responsável.
Boa leitura!
O que é a Cannabis Medicinal?
A Cannabis Sativa é uma planta que contém diversos compostos chamados canabinoides, sendo os dois principais o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol).
O THC é responsável pelos efeitos psicoativos da planta, causando euforia e alteração na percepção, sendo mais associado ao uso recreativo. Já o CBD, que não possui efeitos psicoativos, tem sido amplamente estudado por suas propriedades anti-inflamatórias, analgésicas e ansiolíticas.
Essa diferença entre os compostos reflete também na distinção entre o uso medicinal e o uso recreativo da cannabis. O uso medicinal, feito sob prescrição e acompanhamento profissional, tem como objetivo tratar ou aliviar sintomas de doenças específicas, enquanto o uso recreativo é voltado para o prazer e a alteração do estado de consciência.
Na área da saúde, incluindo a odontologia, os benefícios da cannabis medicinal já começam a ser reconhecidos. Estudos indicam que ela pode auxiliar no alívio da dor, sendo uma opção interessante para pacientes que sofrem com dor orofacial crônica ou no pós-operatório de procedimentos invasivos, como extrações e implantes.
Além disso, suas propriedades anti-inflamatórias podem contribuir para o tratamento de doenças gengivais, como a periodontite. Outro aspecto relevante é sua ação ansiolítica, que pode ser extremamente útil para pacientes que enfrentam ansiedade ou fobia de dentista, tornando a experiência no consultório menos estressante.
Esses efeitos positivos podem ser explicados pelo funcionamento do sistema endocanabinoide, um sistema presente no organismo humano que regula diversas funções, como dor, inflamação e humor.
Esse sistema é composto por receptores chamados CB1 e CB2, que interagem tanto com os canabinoides produzidos naturalmente pelo corpo quanto com aqueles presentes na cannabis. Quando estimulados, esses receptores ajudam a modular a percepção da dor, reduzir processos inflamatórios e promover um estado de relaxamento.
Regulamentação e prescrição da Cannabis na odontologia
O uso medicinal da cannabis tem avançado em diversas áreas da saúde, incluindo a odontologia. No Brasil, a regulamentação para a prescrição e comercialização de produtos à base de cannabis é conduzida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e tem passado por atualizações importantes nos últimos anos.
Além disso, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) tem se posicionado sobre o uso da cannabis na odontologia, orientando os profissionais quanto às boas práticas e diretrizes éticas.
O que a Anvisa permite atualmente?
A Anvisa regulamenta a comercialização e o uso medicinal da cannabis no Brasil, permitindo que produtos à base de canabinoides sejam prescritos por profissionais de saúde e adquiridos por pacientes com indicação médica ou odontológica.
Atualmente, há duas formas principais de acesso a esses produtos: a compra em farmácias autorizadas e a importação de produtos não disponíveis no mercado nacional. A prescrição deve ser feita por profissionais habilitados, seguindo critérios estabelecidos pela agência reguladora.
Resoluções importantes
Três resoluções da Anvisa são fundamentais para entender a regulamentação da cannabis medicinal no Brasil. A RDC 335/2020 autorizou a comercialização de produtos à base de cannabis em farmácias, desde que registrados na Anvisa e sem necessidade de autorização judicial.
Já a RDC 570/2021 estabeleceu os requisitos para importação desses produtos por pacientes mediante prescrição profissional, permitindo acesso a uma variedade maior de opções terapêuticas.
Mais recentemente, a RDC 660/2022 trouxe uma mudança importante para a odontologia, incluindo o número de inscrição no Conselho Regional de Odontologia entre as informações obrigatórias na prescrição.
Essa atualização oficializou a possibilidade de dentistas prescreverem produtos à base de cannabis para fins terapêuticos, desde que respeitadas as normas vigentes.
O posicionamento do Conselho Federal de Odontologia
O Conselho Federal de Odontologia tem acompanhado as discussões sobre a cannabis na odontologia e reconhece seu potencial terapêutico, principalmente para controle da dor, inflamação e ansiedade.
Porém, o CFO reforça que a prescrição deve seguir princípios éticos e científicos, garantindo que os dentistas ajam com responsabilidade na recomendação desses produtos. O profissional deve estar atualizado sobre as normativas da Anvisa, garantindo que sua conduta esteja alinhada com as boas práticas da profissão.
Além disso, o CFO destaca que o uso de cannabis na odontologia deve sempre ser fundamentado em evidências científicas e respeitar a individualidade de cada paciente.
Como funciona a prescrição e importação de produtos à base de cannabis por dentistas?
Para prescrever produtos à base de cannabis, o dentista deve seguir um passo a passo que inclui a avaliação do paciente, a escolha do produto mais adequado e a emissão da receita conforme as exigências da Anvisa.
A prescrição deve conter o nome do paciente, a substância recomendada, a concentração e a posologia, além da identificação do profissional e seu registro no CRO. Caso o produto não esteja disponível em farmácias brasileiras, o paciente pode solicitar a importação, seguindo os requisitos estabelecidos pela RDC 570/2021.
Quando se trata da prescrição da cannabis na odontologia, é essencial que o dentista oriente o paciente sobre o uso correto do produto, seus possíveis efeitos colaterais e as restrições existentes.
Outro ponto é que o profissional deve ter cautela para evitar qualquer infração às normas legais, uma vez que a prescrição inadequada pode resultar em penalidades éticas e jurídicas.
Aplicações terapêuticas da Cannabis na odontologia
O uso medicinal da cannabis tem ganhado espaço na área da saúde como uma alternativa eficaz para o tratamento da dor, inflamações e distúrbios neuromusculares. Na odontologia, os benefícios da cannabis vão além do controle da dor, podendo auxiliar na modulação da inflamação, na redução da ansiedade odontológica e até na cicatrização pós-cirúrgica.
Veja abaixo quais os usos mais comuns da cannabis na odontologia:
Controle da dor
A dor crônica e o desconforto pós-operatório são desafios comuns na prática odontológica. A cannabis medicinal tem se mostrado uma alternativa promissora para o alívio da dor, principalmente devido à ação do canabidiol (CBD) e do tetra-hidrocanabinol (THC) no sistema endocanabinoide, que regula a percepção da dor no corpo humano.
Estudos indicam que o uso de cannabis na odontologia pode reduzir significativamente a necessidade de opioides e anti-inflamatórios para controle da dor, minimizando os riscos de dependência e efeitos colaterais adversos.
Isso pode ser útil para pacientes que passam por procedimentos invasivos, como extrações e implantes, e para aqueles que sofrem com dores crônicas, como a neuralgia do trigêmeo.
Ação anti-inflamatória
A inflamação é um dos principais fatores envolvidos em doenças bucais como gengivite e periodontite. O CBD tem demonstrado um forte potencial anti-inflamatório, ajudando a modular a resposta inflamatória da mucosa oral e reduzindo a progressão dessas doenças.
Sua ação imunomoduladora também pode auxiliar no controle da inflamação sem os efeitos colaterais comuns dos anti-inflamatórios tradicionais. Pacientes que sofrem com inflamações recorrentes na cavidade oral podem se beneficiar da cannabis medicinal como parte de um tratamento complementar, ajudando na recuperação e na manutenção da saúde bucal.
Ansiedade e sedação
A ansiedade odontológica é um dos principais fatores que levam pacientes a evitarem consultas e tratamentos odontológicos. O CBD tem sido amplamente estudado por suas propriedades ansiolíticas, podendo ser uma alternativa segura para reduzir o estresse antes e durante procedimentos odontológicos.
Além de diminuir a ansiedade, a cannabis na odontologia também pode atuar como uma opção para sedação leve em tratamentos invasivos, proporcionando maior conforto ao paciente sem os efeitos colaterais de sedativos farmacológicos mais potentes. Essa abordagem pode ser particularmente útil para pacientes que sofrem de fobia de dentista, tornando a experiência no consultório mais tranquila.
Bruxismo e disfunção temporomandibular (DTM)
O bruxismo e a disfunção temporomandibular (DTM) são condições que afetam a musculatura da face e podem causar dor, desconforto e desgaste dentário.
O CBD tem demonstrado eficácia no relaxamento muscular e na redução da tensão associada ao bruxismo, contribuindo para a melhora da qualidade do sono e alívio da dor. Estudos indicam que sua ação pode reduzir a hiperatividade muscular e a inflamação articular, oferecendo uma alternativa menos invasiva para o manejo dessas condições.
Para pacientes que sofrem com dores constantes devido ao bruxismo, o uso da cannabis medicinal pode ser um complemento eficaz ao tratamento convencional, ajudando a minimizar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Controle bacteriano e cicatrização
Além de suas propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, a cannabis também apresenta potenciais efeitos antibacterianos e antifúngicos. Pesquisas apontam que o CBD pode atuar no combate a microrganismos responsáveis por infecções orais, incluindo algumas cepas de bactérias resistentes a antibióticos.
Isso pode ter implicações significativas no tratamento de doenças periodontais e infecções fúngicas, como candidíase oral. Além disso, a cannabis pode acelerar o processo de cicatrização após cirurgias odontológicas, reduzindo o risco de complicações e promovendo uma recuperação mais rápida.
Desafios e considerações éticas
Apesar dos avanços científicos e regulatórios, o uso da cannabis na odontologia ainda enfrenta desafios devido ao estigma histórico associado à planta. Muitos pacientes e até profissionais de saúde ainda têm receios sobre sua segurança e eficácia, muitas vezes associando seu uso exclusivamente ao consumo recreativo.
No entanto, a crescente base de evidências científicas tem ajudado a desmistificar essas preocupações, mostrando que a cannabis medicinal pode ser utilizada de forma responsável e segura dentro da odontologia.
Segurança e possíveis efeitos colaterais
Embora a cannabis medicinal costuma ser bem tolerada, seu uso deve ser acompanhado por um profissional de saúde para evitar possíveis efeitos colaterais, como sonolência, boca seca e alterações na pressão arterial. Além disso, a prescrição deve seguir as normas estabelecidas pela Anvisa e pelo Conselho Federal de Odontologia, garantindo que os pacientes recebam o tratamento adequado para suas condições específicas.
O papel do dentista na orientação sobre o uso responsável da cannabis na odontologia é fundamental. Antes de prescrever qualquer produto à base da substância, o profissional deve avaliar a condição do paciente, discutir os possíveis benefícios e riscos e fornecer informações claras sobre a dosagem e o uso adequado.
Além disso, é importante manter um acompanhamento regular para avaliar a eficácia do tratamento e ajustar a abordagem, caso seja necessário.
Conclusão
O uso de cannabis na odontologia é recente, mas já traz resultados satisfatórios, auxiliando pacientes que possam ter algum desconforto durante o tratamento. Apesar dos avanços nas pesquisas e na regulamentação, a cannabis ainda enfrenta receio por parte de alguns profissionais e pacientes.
Com a ciência cada vez mais evoluída, a cannabis medicinal representa uma inovação promissora na odontologia, oferecendo novas possibilidades para o controle da dor, inflamação, ansiedade e distúrbios musculares.
Apesar dos desafios e do estigma ainda existente, seu uso baseado em evidências científicas pode proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes. À medida que mais estudos são conduzidos e a regulamentação avança, espera-se que a cannabis se torne uma ferramenta mais acessível e eficaz no consultório odontológico.
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